domingo, 6 de fevereiro de 2011

Marraquexe - 1º Dia 03.02.2011

No aeroporto de Sá Carneiro tivemos o primeiro contacto com a realidade dos voos para Marraquexe. Os passageiros são essencialmente jovens portugueses e estrangeiros em grupo. Os estrangeiros não espanhóis eram claramente estudantes em Erasmus no Porto de países de leste. Poucos marroquinos entraram no avião. Esta rota é essencialmente turística.

O voo correu bem e chegamos a Marraquexe à hora marcada. Enquanto esperávamos pelo carimbo no passaporte conhecemos uma das personagens da viagem. Um rapaz português que aparentava 25 anos e apresentava uma indumentária muito semelhante à usada pelo cantor Toy no melhor dos seus concertos. Como não conseguia falar inglês, nem francês (muito menos árabe) não conseguiu preencher o formulário de entrada no país e pediu ajuda ao Duarte. O Duarte explicou-lhe o que preencher em todos os campos. Não queria preencher a parte referente à profissão e explicou que não sabia ainda onde ia ficar. “Vou andar por aqui”, dizia ele. Muitas vezes ao longo da viagem, e ainda hoje, nos perguntamos por onde andará o rapaz e para quem seria o "belo" ramo de rosas vermelhas de cera que levava consigo. Ficaremos com a dúvida.

Chegados ao aeroporto, tivemos a primeira surpresa. O aeroporto era muito limpo e novo. Muito semelhante ao aeroporto de Sá Carneiro. Não tivemos de esperar muito até o nosso motorista chegar para nos levar ao Riad. Era um senhor de barbas pretas simpático que falava inglês. A distância entre o aeroporto e a Medina de Marraquexe não é muito grande, mas o problema é descobrir o Riad nas suas ruas estreitas. Após estacionar a carrinha, o motorista levou-nos até o Riad du Petit Prince a pé.


Quando chegamos ao Riad du Petit Prince fomos recebidos com chá de menta quente. O Riad é como um oásis de tranquilidade no meio de uma enorme balbúrdia. As ruas são sujas, cheias de gente (e motorizadas) e onde se vende tudo: o possível e o imaginário. Após o chá subimos para o quarto, simples mas bonito. Na cobertura existe um belo terraço muito ao estilo marroquino.



A tarde começou com a odisseia de chegar à Praça Jemaa-el-Fna. Embora tivéssemos um mapa foi totalmente impossível seguir as ruas pelo desenho – as ruas não tem nome e algumas delas não estão no mapa. Desistimos e seguimos por ruas e ruelas, juntamente com os locais, orientados pelo minarete da mesquita Koutobia. Lá chegamos por fim à Praça Jemaa-el-Fna. Tendo em conta que estávamos perante um património oral da humanidade, ficamos um pouco desiludidos com o espaço. Esperávamos muito mais gente, muitas mais bancas, muito mais ruído. Almoçamos pizza numa varanda com vista para a praça. Aqui percebemos que a praça ainda estava a ser ‘montada’ – por todo o lado surgiam bancas a ser preparadas para a noite.


Findo o almoço, passeamos até ao extremo sudoeste da Medina. Quando caminhamos junto à muralha fomos atingidos por pequenas pedras atirados por um grupo de rapazes que caminhavam em cima do muro. Mudamos para o outro lado da rua. Atravessar ruas em Marraquexe não é nada fácil. Há constantemente carros, motos e bicicletas a passar que deixam um ruído e fumo permanente no ar. Enquanto tirávamos fotografias ao Palácio Bahia fomos abordados por crianças (7/8anos) com um inglês muito bom para a idade que nos perguntaram o que fazíamos e quando dissemos que olhávamos para o Palácio – “Entry? To Right! Money, money. Bombom!” Ora em Marrocos, até as crianças cedem informações em troca de dinheiro. Imagino o estranho que seria se fosse estrangeiro e estivesse nos Aliados e fosse interceptado por crianças pequenas a perguntar se queria chegar aos Clérigos e logo depois pedir dinheiro pela informação.


Um bule de chá. Um coisa simples e fácil de comprar. Bem, nem tanto, pelo menos não foi agradável nem bem sucedida a nossa primeira incursão pelos souks. Entramos numa loja e perguntei o preço de um bule, mas optei por não me precipitar comprando o primeiro que vi. O vendedor teve uma reacção desagradável murmurando algo entre dentes. Na loja ao lado, voltei a entrar e a perguntar o preço dos bules. Neste momento o vendedor da loja anterior entrou e disse que eramos só “blá blá blá” e perguntou-me se queria levar o bule “for free”. Não respondi. Decidimos sair da loja, mas ainda deu tempo para o extremoso senhor estender o braço e dizer “Straith ahead”. Na loja seguinte já de novo na Jaam-el-Fna foi muito parecido – sem lugar à negociação.

A praça ao cair da noite já não parece a mesma. Enche-se de gente, cores, aromas e sons. Macacos, serpentes, arrancadores de dentes, tatuadoras de henna, vendedores, aguadeiros… tudo numa só praça. Distraída com o ambiente fabuloso da praça, fui abordada, pela segunda vez, por uma mesma senhora em menos de um minuto para fazer uma tatuagem henna. Disse “No, merci”. Pelos vistos, não foi o suficiente. A senhora decidiu tirar-me a mão do bolso do casaco. Como afastei a mão, a tatuadora ficou irada.


Jantamos no Chez Chegrouni tajine de carne e coucous com carne e legumes, acompanhados por pão caseiro e sopa harira. Tudo isto regado por chá de menta. Sabores diferentes e maravilhosos. A refeição correu muito bem e o restaurante recomenda-se.


Após o jantar mais uma odisseia: regressar ao Riad. Conseguimos seguir o mapa até certo ponto, mas a dado momento estávamos perdidos. Caminhamos algum tempo, sem saber onde estávamos, (sem dar isso a entender para não sermos abordados) em direcção a norte, por ruas ainda movimentadas e lojas ainda abertas. Isto até faz pensar em Marraquexe como uma espécie de Nova Iorque norte africana. Perguntamos o caminho a polícias e a um senhor no parque de estacionamento do tribunal, mas não ajudou muito. Quando estávamos perto do desespero, encontramos o Riad. Entramos e sentamo-nos no pátio junto à piscina a ouvir a água e alguns pássaros. O final de dia perfeito para um dia em cheio.


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