Quando iniciamos o trajeto de carro em direção à Portela do Homem, em pleno Gerês, eu não sabia bem o que me esperava nesse dia. O sol brilhava intensamente e havia um calorzinho timido que prometia atingir temperaturas dignas de uma primavera adiantada.
Após estacionar o carro de forma legal junto à Portela do Homem pegamos nas mochilas e deslocamo-nos para o nosso destino: as minas dos carris.
As minas dos carris são umas minas de Volfrâmio abandonadas que se localizam no ponto mais alto do Gerês - cerca de 1.400 m de altura. De acordo com alguns historiadores, o volfrâmio desta mina foi utilizado pelo exécito nazi no seu esforço de guerra.
O grande problema é que para se chegar ao topo para vislumbrar as minas dos carris, temos de percorrer um total de 21 km (ida e volta) a pé por um percurso com grau de dificuldad elevado. Eu não sabia mesmo o que me esperava...
Cerca de 5 minutos de caminhada a partir da Portela do Homem leva-nos até o início do nosso percurso. Não há margem de erro. O percurso começa junto a uma bela cascata formada pelo Rio Homem. É nesse local que temos de sair da estrada para nos envolvermos na serenidade do Gerês.
O silêncio do percurso é apenas quebrado pelo som das águas do Rio Homem e pelos nossos passos em contato com os pedregulhos do caminho.
A subida deve ser feita com cuidado tendo em conta que o chão é instável. Infelizmente, por esse motivo, só parando é que é possível usufruir das fabulosas vistas.
Paramos por momentos para descansar num local onde a simbiose entre o rio e o seu leito era perfeita. Foi aí que me apercebi como era fantástico o local onde estavamos... E poucos são aqueles que vislumbram esta vista.
Continuando a díficil subida em direção às minas dos carris, ainda nos cruzamos com uma pequena serpente que habilmente simulou estar morta e chegamos à conclusão que que não tinhamos levado água suficiente. Deste modo, tivemos de recorrer à água do rio.
Foram necessárias 4 horas de subida em esforço para chegar às minas.
As minas dos Carris são uma verdadeira aldeia fantasma no cimo da montanha. Há um misto de clima assustador e de deslumbramento. As vistas em direção a uma distante Pitões da Júnia são fantásticas, mas há sempre um mistério associado ao modo como aqueles mineiros viviam naquela zona.
Começamos a nossa descida com receio de perder a luz do dia. O grau de dificuldade na descida é superior tendo em conta que as pedras soltas do percurso aumentam o risco de torção de joelhos ou tornozelos. Não obstante, a descida demorou 2h30, sempre com luz natural.
Como estavamos em pleno contacto com a natureza, ainda tivemos um encontro imediato com um javali que, felizmente, teve mais medo de nós do que nós dele.
Foi uma experiência bastante completa. Quando chegamos ao carro estavamos num ponto de quase exaustão física e decidimos jantar na Vila do Gerês.
A Vila do Gerês ainda tem um glamour especial e tem atividade social que não estava à espera para um sábado de época baixa. Jantamos no "Novo Sol". Restaurante simpático e acolhedor que merece uma visita a quem procura jantar ou almoçar na Vila.
Ficamos alojados na Pousada da Juventude de Vilarinho das Furnas. O quarto duplo com casa de banho permite uma confortável estadia, ao nível de um hotel 3 estrelas. O único problema são as suas paredes finas que permitem ouvir todas as conversas dos quartos vizinhos.
No dia seguinte, fomos ver a assustadora barragem de Vilarinho das Furnas e imaginar como seria a paisagem antes da sua construção. Esta tarefa foi demasiado difícil. A barragem simplesmente impõe-se na paisagem engolindo nas águas retidas uma aldeia com história e tradição.
Almoçamos em Braga no Casa Pimenta. O próximo destino era o Mosteiro de Tibães nos arredores de Braga.
Comprado a particulares, o Mosteiro foi recuperado para receber visitas organizadas. Atendendo à sua dimensão e interesse histórico e arquitetónico, Tibães promete ser um local de referência no distrito de Braga.
Neste fim de semana, levamos a nossa capacidade física aos limites, mas as vistas fabulosas do percurso às minas dos carris e o Mosteiro de Tibães mostraram que o distrito de Braga tem muito para oferecer.
"For every traveler who has any taste of it's own, the only usefull guidebook will be the one he himself has written" Aldous Huxley
domingo, 15 de abril de 2012
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Take 1 - Fotografias
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Lusitânia Low Cost,
Vila Nova de Foz Côa
Lusitânia Low Cost - Take 1
Dizem que o nosso país é pequeno, mas se calhar para podermos perceber a verdadeira dimensão deste pequeno canto da Europa é necessário ir aqueles locais que estão atrás dos montes e do Douro.
Começamos o nosso projecto Lusitânia low cost, procurando descobrir Vila Nova de Foz Côa, uma pequena cidade do Distrito da Guarda. Para muitos, Vila Nova de Foz Côa é sinónimo de gravuras rupestres, contudo esta cidade tem muito mais para oferecer. Assim, o nosso objetivo principal era outro - percorrer a pé linha de comboio desativada entre as estações do Pocinho e do Côa.
De facto, tínhamos este trajeto em mente desde 2009, ano em que compramos o livro "Pelas linhas da nostalagia". Este livro descreve os percursos a pé nas linhas ferroviárias desativadas do país. Relativamente a este trajeto, os seus autores referem que atravessar a linha do Côa permite aceder a uma paisagem natural que apenas é possível de barco ou a pé. Não conseguimos resistir a este desafio!
Restava fazer a mala para esta aventura.
O que levar? Decidimos que uma ligeira refeição seria suficiente para as horas que iriamos estar isolado. Assim, para além de comida, entendemos levar as 2 cartas militares, bússola, lanterna e roupa quente.
Com tudo acondicionado nas mochilas lá fomos para Vila Nova de Foz Côa.
Para quem vem do Porto, o percurso mais direto é através da A4 em direção a Amarante. Após a portagem, seguimos em direção à Régua e depois enfrentamos um caminho de curva contra curva, subidas e descidas até chegarmos ao nosso destino. Sem grandes pressas, chegamos a Vila Nova de Foz Côa em cerca de 3 horas.
Como saímos do Porto na sexta-feira à noite, ainda chegamos a tempo de dormir no Hotel Vale do Côa. De facto, apesar de todo o fervor turístico associado às gravuras rupestres e ao novo Museu, a cidade não tem grande oferta hoteleira. No site booking, não está disponivel um único local para dormir. As alternativas são apenas o Hotel Vale do Côa, a Casa Vermelha, Pousada da Juventude, Residencial Avenida e Residencial Marina.
O Hotel Vale do Côa, sem deslumbrar cumpre a sua missão. Os quartos são confortáveis e limpos. A localização central. O pequeno almoço era simples mas agradável.
Sábado de manhã 11h00 no Pocinho. Começamos a nossa aventura. De mochila às costas, iniciamos o nosso caminho. Logo no seu início tivemos de atravessar um rebanho de ovelhas que se alimentava nas linhas desativadas. O nosso receio de sermos abordados por um cão pastor não se confirmaram e fomos ignorados pela primeira vez por animais naquele dia.
Andar pelas linhas de comboio não é fácil. Com efeito, as pedras, a madeira e a vegetação dificultam cada passo dado. Não obstante, com o percorrer da distância, cada vez mais ficavamos isolados no mundo. Bastava pararmos um pouco para sentirmos ûm silêncio quase absoluto que apenas era quebrado pelo barulho de aves. Durante a primeira hora, era possível observar do outro lado do Rio Douro uma estrada. No entanto, a estrada acabou por seguir outro caminho que não o paralelo ao nosso. Estavamos ainda mais isolados. Se calhar não iriamos ter qualquer contato humanos até o nosso destino. Não poderiamos estar mais enganados. Após cerca de uma hora e meia de percurso, avistamos uma pessoa na linha. Quando nos aproximamos mais, pudemos constatar que a pessoa estava armada. Era um caçador que olhava de forma fixa para o monte. Decidimos conversar um pouco com ele. Explicou-nos que estava a ter lugar uma montaria ao javali, mas que não havia perigo para nós. O caçador mostrou ter muito interesse na sua região e na revitalização da linha de comboio onde nos tínhamos cruzado.
Continuamos o nosso percurso. A montaria estava no seu auge. Diversos caçadores estavam estrategicamente localizados ao longo do monte enquanto outros gritavam de forma entusiasta. Rapidamente saímos da zona da montaria e voltamos ao percurso calma que tínhamos encontrado no início. De vez em quando, um cão de sino no pescoço e com o pêlo molhado passa por nós. Nenhum nos deu a mínima atenção, continuando o seu trajeto como um bom profissional concentrados nas suas tarefas auxiliares à montaria.
Novamente isolados, continuamos a usufruir da paz da linha desativada, das águas calmas do douro e das amendoeiras em flor. Paramos para almoçar debaixo da sombra de uma oliveira antes de avançar para a última parte do caminho. Por vezes, deparavamo-nos com antigos apeadeiros destruídos, até que nos aproximamos do último previsto - a estação do Côa junto à ponte sobre o rio Côa. A nossa caminhada tinha aparentemente chegado ao fim, mas ainda queriamos ir ao Museu do Côa. A única hipótese foi avançar pelo monte em corta-mato até encontrarmos um pequeno caminho que nos levou ao Museu.
O Museu ainda está com um funcionamento deficitário. Do ponto de vista arquitetónico, é dificil compreender como o espaço não está mais virado para a vista fabulosa que a rodeia. Todavia, este museu tem um conceito dinâmico e interativo que o torna interessante. Vale a visita.
Vila Nova de Foz côa tem ainda muito mais para oferecer - as pedreiras do poio, as gravuras rupestres, as amendoeiras em flor, a paisagem natural. Um fim de semana nesta região do Douro faz-nos abraçar um portugal distante, muitas vezes esquecidos, mas que rodeia um dos ex-libris do país - o Parque Natural do Douro.
Começamos o nosso projecto Lusitânia low cost, procurando descobrir Vila Nova de Foz Côa, uma pequena cidade do Distrito da Guarda. Para muitos, Vila Nova de Foz Côa é sinónimo de gravuras rupestres, contudo esta cidade tem muito mais para oferecer. Assim, o nosso objetivo principal era outro - percorrer a pé linha de comboio desativada entre as estações do Pocinho e do Côa.
De facto, tínhamos este trajeto em mente desde 2009, ano em que compramos o livro "Pelas linhas da nostalagia". Este livro descreve os percursos a pé nas linhas ferroviárias desativadas do país. Relativamente a este trajeto, os seus autores referem que atravessar a linha do Côa permite aceder a uma paisagem natural que apenas é possível de barco ou a pé. Não conseguimos resistir a este desafio!
Restava fazer a mala para esta aventura.
O que levar? Decidimos que uma ligeira refeição seria suficiente para as horas que iriamos estar isolado. Assim, para além de comida, entendemos levar as 2 cartas militares, bússola, lanterna e roupa quente.
Com tudo acondicionado nas mochilas lá fomos para Vila Nova de Foz Côa.
Para quem vem do Porto, o percurso mais direto é através da A4 em direção a Amarante. Após a portagem, seguimos em direção à Régua e depois enfrentamos um caminho de curva contra curva, subidas e descidas até chegarmos ao nosso destino. Sem grandes pressas, chegamos a Vila Nova de Foz Côa em cerca de 3 horas.
Como saímos do Porto na sexta-feira à noite, ainda chegamos a tempo de dormir no Hotel Vale do Côa. De facto, apesar de todo o fervor turístico associado às gravuras rupestres e ao novo Museu, a cidade não tem grande oferta hoteleira. No site booking, não está disponivel um único local para dormir. As alternativas são apenas o Hotel Vale do Côa, a Casa Vermelha, Pousada da Juventude, Residencial Avenida e Residencial Marina.
O Hotel Vale do Côa, sem deslumbrar cumpre a sua missão. Os quartos são confortáveis e limpos. A localização central. O pequeno almoço era simples mas agradável.
Sábado de manhã 11h00 no Pocinho. Começamos a nossa aventura. De mochila às costas, iniciamos o nosso caminho. Logo no seu início tivemos de atravessar um rebanho de ovelhas que se alimentava nas linhas desativadas. O nosso receio de sermos abordados por um cão pastor não se confirmaram e fomos ignorados pela primeira vez por animais naquele dia.
Andar pelas linhas de comboio não é fácil. Com efeito, as pedras, a madeira e a vegetação dificultam cada passo dado. Não obstante, com o percorrer da distância, cada vez mais ficavamos isolados no mundo. Bastava pararmos um pouco para sentirmos ûm silêncio quase absoluto que apenas era quebrado pelo barulho de aves. Durante a primeira hora, era possível observar do outro lado do Rio Douro uma estrada. No entanto, a estrada acabou por seguir outro caminho que não o paralelo ao nosso. Estavamos ainda mais isolados. Se calhar não iriamos ter qualquer contato humanos até o nosso destino. Não poderiamos estar mais enganados. Após cerca de uma hora e meia de percurso, avistamos uma pessoa na linha. Quando nos aproximamos mais, pudemos constatar que a pessoa estava armada. Era um caçador que olhava de forma fixa para o monte. Decidimos conversar um pouco com ele. Explicou-nos que estava a ter lugar uma montaria ao javali, mas que não havia perigo para nós. O caçador mostrou ter muito interesse na sua região e na revitalização da linha de comboio onde nos tínhamos cruzado.
Continuamos o nosso percurso. A montaria estava no seu auge. Diversos caçadores estavam estrategicamente localizados ao longo do monte enquanto outros gritavam de forma entusiasta. Rapidamente saímos da zona da montaria e voltamos ao percurso calma que tínhamos encontrado no início. De vez em quando, um cão de sino no pescoço e com o pêlo molhado passa por nós. Nenhum nos deu a mínima atenção, continuando o seu trajeto como um bom profissional concentrados nas suas tarefas auxiliares à montaria.
Novamente isolados, continuamos a usufruir da paz da linha desativada, das águas calmas do douro e das amendoeiras em flor. Paramos para almoçar debaixo da sombra de uma oliveira antes de avançar para a última parte do caminho. Por vezes, deparavamo-nos com antigos apeadeiros destruídos, até que nos aproximamos do último previsto - a estação do Côa junto à ponte sobre o rio Côa. A nossa caminhada tinha aparentemente chegado ao fim, mas ainda queriamos ir ao Museu do Côa. A única hipótese foi avançar pelo monte em corta-mato até encontrarmos um pequeno caminho que nos levou ao Museu.
O Museu ainda está com um funcionamento deficitário. Do ponto de vista arquitetónico, é dificil compreender como o espaço não está mais virado para a vista fabulosa que a rodeia. Todavia, este museu tem um conceito dinâmico e interativo que o torna interessante. Vale a visita.
Vila Nova de Foz côa tem ainda muito mais para oferecer - as pedreiras do poio, as gravuras rupestres, as amendoeiras em flor, a paisagem natural. Um fim de semana nesta região do Douro faz-nos abraçar um portugal distante, muitas vezes esquecidos, mas que rodeia um dos ex-libris do país - o Parque Natural do Douro.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Lusitânia Low Cost
Há muito que queria viajar por Portugal, conhecer um pouco mais do país tantas vezes deixado para segundo plano. Queria visitar as gravuras de Foz Côa, passear pela Gerês, descansar à sombra de um sobreiro alentejano, nadar ao largo das Berlengas...
Uma resolução de ano novo veio trazer à luz do dia um novo projecto: o Lusitânia low cost. A ideia é percorrer o país, um lugar ou aldeia por cada distrito, em fins-de-semana low cost, tirando partido de pousadas da juventude, pequenas estalagens, parques de campismo e chegando de carro, autocarro ou comboio.
E, assim, um distrito por mês conhecer Portugal é o nosso objectivo para os próximos tempos.
Começamos este fim-de-semana com o distrito da Guarda, onde visitaremos Vila Nova de Foz Côa.
Uma resolução de ano novo veio trazer à luz do dia um novo projecto: o Lusitânia low cost. A ideia é percorrer o país, um lugar ou aldeia por cada distrito, em fins-de-semana low cost, tirando partido de pousadas da juventude, pequenas estalagens, parques de campismo e chegando de carro, autocarro ou comboio.
E, assim, um distrito por mês conhecer Portugal é o nosso objectivo para os próximos tempos.
Começamos este fim-de-semana com o distrito da Guarda, onde visitaremos Vila Nova de Foz Côa.
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Viagens na nossa terra
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Aveiro em Janeiro - Fotografias do Grupo
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Ascensão à Peña Ubiña
O que será que acontece quando se pensa em fazer trekking, mas na realidade faz-se alpinismo?
Há cerca de duas semanas, Filipe Sousa, subiu à Peña Ubiña em Espanha com um grupo Nomad. Gostou da experiência que se revelou bastante surpreendente.
Daí que seja o nosso primeiro convidado para elaborar um post a contar a experiência. Será publicado nos próximos dias.
Há cerca de duas semanas, Filipe Sousa, subiu à Peña Ubiña em Espanha com um grupo Nomad. Gostou da experiência que se revelou bastante surpreendente.
Daí que seja o nosso primeiro convidado para elaborar um post a contar a experiência. Será publicado nos próximos dias.
domingo, 22 de janeiro de 2012
Porto 2011 – 10 anos depois da Capital Europeia da Cultura, um Porto vintage
Tarde chuvosa e cinzenta. Domingo. Novembro. Cidade do Porto.
Todas estas características conjugadas entre si são
convidativas para qualquer pessoa se resguardar no conforto do lar. Contudo,
neste dia decidi resistir a qualquer tentação e passear pelas ruas da cidade do
Porto.
Na verdade, estamos em 2011. Há 10 anos atrás, o Porto
recebia um dos maiores eventos culturais que a cidade jamais tinha assistido.
As ruas esburacadas com as obras de requalificação enfureciam os comerciantes
que viam dificultados os acessos às suas lojas pelo caos instalado. Os
portuenses em geral perdiam a paciência com os constantes atrasos dos projectos
mais simbólicos associados ao evento. Em abono da verdade, com toda razão, na
medida em que, por exemplo, a Casa da Música apenas foi inaugurada em 2005 e
que o Edifício Transparente tem hoje uma utilização deficitária. Por outro
lado, foi muito criticada a intervenção nos Jardins da Cordoaria, Praça da
Batalha ou Praça D. João IV. No entanto, passados 10 anos, a cidade do Porto já
não é mesma que recebeu a responsabilidade de ostentar o título de Capital
Europeia da Cultura. Estamos perante uma cidade diferente e, sem dúvida, melhor.
Mas voltemos então para aquela tarde chuvosa e cinzenta de
um domingo. É manifestamente aceite que Novembro é um dos piores meses para o
turismo na maior parte das cidades europeias. Na verdade, o verão já vai
distante e o Natal apenas no aquecimento. No fundo, tudo levaria a crer que uma
tarde com aquelas características no Porto fosse completamente despida de
pessoas e de movimento. Este seria, sem dúvida alguma, o cenário no ano de
2001. No entanto, estamos em 2011.
Ponto de mira: Cadeia da Relação. Um edifício carregado de
história onde Camilo de Castelo Branco escreveu o “Amor de Perdição” privado da sua liberdade e que alberga o Centro
Português de Fotografia. Foi aqui que iniciei o meu trajecto. A chuva intensa
convidava a uma visita demorada. Enquanto acompanhava a exposição temporária de
Marín, constatei que me encontrava rodeado de pessoas de diversas
nacionalidades que circulavam pelas várias salas da exposição.
Foi difícil ganhar coragem para sair da Cadeira da Relação
devido à chuva intensa, por isso esperei que acalmasse junto à porta enquanto
observava descontraidamente o Jardim da Cordoaria. Neste momento, reparei que
uma rapariga ruiva de olhos claros permanecia encostada à entrada do edifício
igualmente com o olhar perdido na chuva que caía com abundância. Não é
portuguesa, pensei logo. Deve estar à espera que a chuva acalme para poder
sair, especulei. Alguns minutos depois, a minha curiosidade foi satisfeita.
Chegou outra rapariga de cabelo preto e de tez pálida. Falaram em inglês com
sotaque. Eram evidentemente estudantes Erasmus de nacionalidades diferentes que
vivem no Porto e que combinaram usufruir da cidade, visitando a exposição no
Centro Português de Fotografia. Após cumprimentarem-se, entraram e fiquei
sozinho. Tinha chegado o momento para enfrentar a cidade chuvosa.
A decisão passou por descer a Rua dos Caldeireiros iniciando
o caminho até à zona da Ribeira. Os traços tradicionais das suas casas
cinzentas definem as características associadas ao Porto de cidade escura. Ao
longo da descida, cruzava-me com grupos de turistas de nacionalidade
estrangeira que procuravam descobrir todos os recantos da cidade. Alguns
espanhóis, outros sem dúvida ingleses. Mas muitos eram de nacionalidade difícil
de identificar. Eventualmente de países do leste da Europa.
O habitual percurso turístico da cidade acaba por desaguar sempre
na zona da Ribeira. Assim, em poucos minutos alcancei a Rua das Flores, o
Mercado Ferreira Borges e, por fim, o famoso “Cubo” da Ribeira. É aqui que o charme da cidade mostra todo o seu
encanto. Como a noite já tinha caído, as luzes da Serra do Pilar, da Ponte D.
Luís e de Vila Nova de Gaia pintavam uma tela que é difícil perder na nossa
memória. Grupos de turistas procuravam registar a imagem da cidade do Porto
espelhada no Rio Douro através da mira das objectivas. Uns portugueses, mas
vários estrangeiros. Um aglomerado de jovens bem junto do rio destacava-se de
forma evidente. Eram belgas, mas poderiam ser italianos, japoneses, alemães. Já
não ficamos surpreendidos com as pessoas que se cruzam pelo Porto.
Regressando da Ribeira, iniciei a subida da Rua dos
Clérigos. No entanto, era difícil concentrar-me nas linhas iluminadas da famosa
Torre devido ao som estridente das rodinhas das malas das dezenas de turistas
que desciam a mesma rua em direcção à Estação de metro dos Aliados. Neste
início de noite estava a acabar a aventura portuense para muitos. Provavelmente
o destino final seria a estação do aeroporto onde iriam apanhar um voo da
companhia aérea irlandesa Ryannair.
Nos últimos 10 anos, o Porto conquistou visitantes de todo o
mundo. O trio Ryannair, Metro & Erasmus mudou a cidade depois da Porto
2001. Actualmente, são milhares os jovens estrangeiros que escolheram a cidade
para viver por um ou dois semestres ao abrigo do Programa de Intercâmbio
universitário Erasmus. Por outro lado, muitos destes estudantes e demais turistas
ocasionais visitam o Porto a um preço acessível devido à proliferação das
companhias aéreas low cost,
nomeadamente a Ryannair, que operam no aeroporto Francisco Sá Carneiro. Por fim,
o metro permite aproximar as distâncias dentro da cidade.
Em 2001 nunca imaginaria passear um domingo à tarde pelo
Porto, cruzando-me com vários turistas e viajantes de outras nacionalidades com
mapa na mão. Em 2011, essa é uma realidade a que temos de nos habituar.
Recentemente, a Lonely Planet classificou a cidade do Porto como 4.º destino
mundial de acordo com o critério de Best
Value para 2012. Fica, assim, evidenciado que a cidade invicta continuará a
ser um destino de eleição nos próximos anos.
Desta forma, 10 anos depois não podemos ignorar que o Porto 2001
– Capital Europeia da Cultura criou uma cidade vintage. O Porto está definitivamente na moda!
Por Duarte Abrunhosa e Sousa
Por Duarte Abrunhosa e Sousa
Texto escrito no âmbito do curso de escrita de viagens, organizado por Filipe Morato Gomes em Novembro de 2011.
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Porto de Sentidos
Os relâmpagos salpicavam o Céu de luz por instantes efémeros naquele dia cinzento. Vagueava pelas ruas da cidade do Porto. Uma cidade cheia de dualidades, que é rude e charmosa ao mesmo tempo e onde cada canto encerra um mundo de experiências por desvendar. Uma dessas ruas é a Rua dos Caldeireiros,estreita como a maioria das ruelas do morro da Vitória. Ingreme, cinzenta, rude e charmosa.
Esta zona da cidade está repleta de pequenas casas de pasto ou tascas. “Não bebe nada?” perguntou-me o senhor Joaquim à entrada de uma destas casas típicas. Naquele momento só se fosse um chocolate quente, mas creio que não era bem a isso a que o senhor Joaquim se referia. Optei por não entrar, mas a ficar um pouco à conversa. Em breves minutos, fiquei a saber que o meu novo amigo trabalhou no porto de Leixões, foi apontador. Quando lhe disse o que andava a fazer - a passear pela cidade de todos os dias em busca de novos olhares – respondeu: “Tem muito que ver, eu próprio não conheço tudo”. No meio das frases saía uma outra palavra em inglês, porque o senhor Joaquim gosta de falar inglês com a sua "filha doutorada".
Despeço-me e sigo o meu carrinho errante. Dou por mim a olhar através da janela de um edifício. Lá dentro, uma sala cheia de jovens turistas que reunidos à volta de uma mesa cheia de computadores portáteis e máquinas fotográficas. Um jovem com ar nipónico desenha a Torre dos Clérigos. O ambiente é tão quente e acolhedor que não resisto a entrar. Trata-se do OportoPoetsHostel. Como a tarde não convidava ao passeio os hóspedes optaram pelo convívio e lazer no hostel. Esta é mesmo uma das grandes vantagens deste tipo de alojamento: a enorme confraternização entre hóspedes. Quase como se fosse uma grande casa de família.
Procurei descobrir a história daquele local tão acolhedor. Porém, neste local, a recepção que recebi não foi tão calorosa com o ambiente e a decoração poderiam fazer crer. Não me responderam às perguntas que coloquei, nem me autorizaram a tirar fotografias. Não deixa de ser curioso que num local onde as coisas deveriam ser mais descontraídas e relaxadas sou recebida com maior formalidade. Não insisti muito mais e decidi continuar o meu caminho.
Continuando a descida da Rua dos Caldeireiros, um edifício despertou a atenção na perpendicular Rua da Vitória. Na realidade, a brancura do seu granito na envolvente parda destacava-se dos demais. Decidi tirar uma fotografia do brasão que se impunha na fachada. Percebi, então, que estava perante um Hotel - VitoriaVillage. Ao ver-me observar e fotografar com interesse o edifício, Marco, o recepcionista, de imediato me convidou a entrar. Sem saber, estava prestes a entrar num outro Porto. Um Porto amplo, contemporâneo e bem desenhado.
O hotel nasceu da recuperação de um antigo solar degradado, usado como estacionamento e estava aberto desde de Abril deste ano. Desenhado por arquitectos italianos, conta com um elevador para os veículos automóveis como forma de vencer o grande desnível. O hotel oferece para já 14 confortáveis estúdios. O Jardim, recuperado a partir do anterior, constitui um espaço de recato e descanso. A sensação ao entrar no jardim é semelhante à de entrar num pátio marroquino – um oásis de tranquilidade do meio da confusão da cidade. Mas o VitoriaVillage tem importante bonús: a vista privilegiada para o Sé e a Torre dos Clérigos. Rapidamente imaginei uma noite quente de Junho, um cálice de Porto e aquela vista ao alcance de um mero olhar. Haverá melhor cartão de visita da cidade? Depressa regressei a Novembro com o som de um trovão. Estava ainda acompanhada por Marco. Com um orgulho desmedido no Hotel onde trabalha, Marco explicou-me o projecto de ampliação das instalações. Deixou-me com vontade de ser turista na minha cidade e terminar um dia de passeio a descansar num dos estúdios recatados à frente do jardim.
A luz do dia estava a desaparecer e o meu olhar sobre o porto também.
Numa só rua: o senhor Joaquim que gosta de falar inglês, as famílias estrangeiras de classe média/alta que se alojam nos estúdios do Hotel VitoriaVillage e os jovens backpackers que descobrem a Europa (e a si mesmos) do OportoPoetsHostel. O que os une? A cidade do Porto na tarde cinzenta de um domingo de Outono. O Porto, em que a rudeza da paisagem e do granito se alia ao charme para um carácter romântico que torna a cidade distinta das demais. Tudo pode acontecer em escassas centenas de metros de uma rua da cidade do Porto.
Texto escrito no âmbito do Curso de Escrita de Viagens, organizado por Filipe Morato Gomes em Novembro de 2011.
Esta zona da cidade está repleta de pequenas casas de pasto ou tascas. “Não bebe nada?” perguntou-me o senhor Joaquim à entrada de uma destas casas típicas. Naquele momento só se fosse um chocolate quente, mas creio que não era bem a isso a que o senhor Joaquim se referia. Optei por não entrar, mas a ficar um pouco à conversa. Em breves minutos, fiquei a saber que o meu novo amigo trabalhou no porto de Leixões, foi apontador. Quando lhe disse o que andava a fazer - a passear pela cidade de todos os dias em busca de novos olhares – respondeu: “Tem muito que ver, eu próprio não conheço tudo”. No meio das frases saía uma outra palavra em inglês, porque o senhor Joaquim gosta de falar inglês com a sua "filha doutorada".
Despeço-me e sigo o meu carrinho errante. Dou por mim a olhar através da janela de um edifício. Lá dentro, uma sala cheia de jovens turistas que reunidos à volta de uma mesa cheia de computadores portáteis e máquinas fotográficas. Um jovem com ar nipónico desenha a Torre dos Clérigos. O ambiente é tão quente e acolhedor que não resisto a entrar. Trata-se do OportoPoetsHostel. Como a tarde não convidava ao passeio os hóspedes optaram pelo convívio e lazer no hostel. Esta é mesmo uma das grandes vantagens deste tipo de alojamento: a enorme confraternização entre hóspedes. Quase como se fosse uma grande casa de família.
Procurei descobrir a história daquele local tão acolhedor. Porém, neste local, a recepção que recebi não foi tão calorosa com o ambiente e a decoração poderiam fazer crer. Não me responderam às perguntas que coloquei, nem me autorizaram a tirar fotografias. Não deixa de ser curioso que num local onde as coisas deveriam ser mais descontraídas e relaxadas sou recebida com maior formalidade. Não insisti muito mais e decidi continuar o meu caminho.
Continuando a descida da Rua dos Caldeireiros, um edifício despertou a atenção na perpendicular Rua da Vitória. Na realidade, a brancura do seu granito na envolvente parda destacava-se dos demais. Decidi tirar uma fotografia do brasão que se impunha na fachada. Percebi, então, que estava perante um Hotel - VitoriaVillage. Ao ver-me observar e fotografar com interesse o edifício, Marco, o recepcionista, de imediato me convidou a entrar. Sem saber, estava prestes a entrar num outro Porto. Um Porto amplo, contemporâneo e bem desenhado.
O hotel nasceu da recuperação de um antigo solar degradado, usado como estacionamento e estava aberto desde de Abril deste ano. Desenhado por arquitectos italianos, conta com um elevador para os veículos automóveis como forma de vencer o grande desnível. O hotel oferece para já 14 confortáveis estúdios. O Jardim, recuperado a partir do anterior, constitui um espaço de recato e descanso. A sensação ao entrar no jardim é semelhante à de entrar num pátio marroquino – um oásis de tranquilidade do meio da confusão da cidade. Mas o VitoriaVillage tem importante bonús: a vista privilegiada para o Sé e a Torre dos Clérigos. Rapidamente imaginei uma noite quente de Junho, um cálice de Porto e aquela vista ao alcance de um mero olhar. Haverá melhor cartão de visita da cidade? Depressa regressei a Novembro com o som de um trovão. Estava ainda acompanhada por Marco. Com um orgulho desmedido no Hotel onde trabalha, Marco explicou-me o projecto de ampliação das instalações. Deixou-me com vontade de ser turista na minha cidade e terminar um dia de passeio a descansar num dos estúdios recatados à frente do jardim.
Texto escrito no âmbito do Curso de Escrita de Viagens, organizado por Filipe Morato Gomes em Novembro de 2011.
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